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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Roupas lavadas, passadas e guardadas...


Roupas lavadas, passadas e guardadas...




Tinas, tanques, bicas, bacias, máquinas de lavar, de enxaguar e de centrifugar: são lugares onde mulheres, e hoje também homens, lavam roupas. Hoje, eles lavam. Antigamente isso era tarefa de mulheres. Ainda hoje, em certos lugares, em morros de favelas, no interior do país, elas chegam às dezenas com trouxas de roupas equilibradas na cabeça, bacias e baldes e lavam, esfregam, enxaguam camisas e saias, lençóis e toalhas, fronhas e colchas. Lavavam com sabão em barra, enxaguavam, torciam e levavam para suas casas para pendurarem nos varais. E, nos varais, os lençóis se abraçavam com as toalhas, calças se enroscavam nas blusas.

Lá em casa, e em muitas casas, segunda-feira era dia de lavar roupa. A mãe separava as peças. Havias as calças de garoto, o macacão do pai sujo de graxa, as meias de lã usadas nos frios invernos de Petrópolis. A mãe lavava num tanque com sabão em barra meio azulado ou amarelo. As roupas brancas ficavam no coradouro para perderem o encardido. As peças mais finas eram lavadas com sabão de coco. Muitas vezes, as roupas brancas eram passadas numa água azulada com anil. Na venda do Bingen dos Vogel, a gente comprava um boneca de anil.

O mais bonito era ver toda a roupa pendurada nos varais. Camisas azuis de manga comprida, camisola de criança, de flanela e cheia de desenhos bonitos. Com a ventania, os lençóis serviam de espantalho para os passarinhos que vinham bicar as goiabas e ameixas. Aquele roupa toda pendurada nas cordas com pregadores, como dizia o poeta, davam a impressão de um estranho festival; pareciam bandeiras de um feriado nacional.

Quando ameaçava a chuva, a mãe e nós todos corríamos para recolher a roupa em varais que existiam debaixo de telheiros no fundo das casa, onde elas acabavam de secar. Triste quando chovia na segunda, na terça… e sempre… porque as roupas não secavam e durante a noite os cachorros puxavam os lençóis e levavam pela lama a dentro…

À noitinha, à hora das ave-marias, a mãe recolhia tudo. Que perfume delicado vinha das pilhas de roupas dobradas e colocada sobre as camas. As peças brancas estavam brancas de verdade. Por causa do tal do anil e do sol. Será que ainda existem essas “bonecas” de anil? Qualquer hora vou me informar.

À noite, a mãe passava a pilha de roupas. Não existia ferro elétrico. Era um ferro com brasas… Meu Deus!!! Enquanto eu e minha irmã fazíamos os deveres da escola, a mãe passava roupa, o pai fazia a escrita da capela, e todos ouvíamos a novela da Rádio Nacional. Era “O Direito de Nascer”, novela das 8h, cheia de emoções. Paulo Gracindo e Yara Salles eram os principais radio-atores. Depois vinha o “Repórter Esso” com Heron Domingues…

Terminada a tarefa de passar, a mãe guardava tudo no armário e nos baús… com naftalina ou saquinhos de pós perfumados… extraídos de cascas de árvores…

Nós esperamos que nossas vestes sejam lavadas no sangue do Cordeiro e que elas sejam impregnadas do perfume das boas obras que praticamos… Esperamos entrar na sala do banquete com veste nupcial… que não precisará nem de anil, nem de coradouro. 

Frei Almir Ribeiro Guimarães


Beijos meus cheios de, luz, paz, amor, fé e esperança no Cristo ressuscitado! 


Um comentário:

  1. Que belo texto.Fez-me lembrar da minha infância.Hoje tudo está mais fácil com a tecnologia.Sabor de infância tem gosto de felicidade.
    Um forte abraço minha linda amiga
    Eloah

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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