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sexta-feira, 3 de abril de 2009

- A PAZ... -


A Paz...
setembro 2006


Paz, em hebraico, é Shalom, e, literalmente, Shalom quer dizer: “estar inteiro”, “estar em repouso”... É então conveniente que perguntemos: o que nos impede de estarmos inteiros? O que nos impede de experimentarmos o repouso, isto é, de estarmos em paz?

As respostas são múltiplas; destaco apenas as que me parecem essenciais;

-O que nos impede de estarmos inteiros, de estarmos inteiramente presentes na integridade do que somos, é o medo.

- O que nos permite estarmos inteiros, estarmos inteiramente presentes na integridade do que somos, é o amor.

O contrário do amor, e portanto da realização do que somos, não é fundamentalmente o ódio, e sim o medo.

Medo de quem? Medo de que?

Medo de amar, melhor dizendo, de se perder, pois amar antes de se encontrar é perder-se. Certamente, existe toda sorte de medo: do desconhecido, do sofrimento, do abandono, da morte... Todos esses medos podem resumir-se num só: medo de ser “nada”.

Este medo nos leva a esforços inimagináveis, para provarmos a nós mesmos e aos outros que somos alguma coisa e que “vale a pena” sermos amados, que o merecemos... Ser amado seria, portanto, um direito do homem?

Infelizmente, este é um segredo muito bem guardado: aquele que procura ou solicita o amor jamais o encontrará... Só o encontramos no momento em que o damos... Unicamente quem ama, quem se torna amável e é capaz desse dom “gracioso” recebe o amor gratuitamente.

O Amor jamais se manifesta àquele que o pede, mas se revela sem cessar a quem o doa. Aquele que compreendeu e viveu isto sente-se em paz. E também inteiro, porque só o amor nos realiza (e é o cumprimento da lei).

O medo nos “castra”, torna-nos enfermos e impede a livre circulação da vida em todos os nossos membros. E no Amor não há “membros impuros”: “Tudo é puro para aquele que é puro”; é o Amor que purifica.

Amar com todo o seu ser, este é o mandamento (mitzvah), ou, mais exatamente, o “exercício” que nos é proposto: “Amarás com todo o teu coração, com todo o teu espírito, com todas as tuas forças”; isto traz também uma esperança.

Um dia amarei inteiramente, não somente com o meu corpo, minha cabeça ou meu coração, mas “inteiramente”; um dia, se almejo isto sem perder a esperança, estarei em paz. Pois é suficiente desejar amar, querer amar, mesmo que ainda não seja amar... Bem sabemos que o inferno não está nos outros; o inferno é não amar, é não se amar inteiramente, até em nossa dificuldade e algumas vezes em nossa incapacidade de amar...

Nesse caso, talvez seja bastante não mais querer, não mais ter medo deste medo sutil, menos grosseiro, que é o medo de não ser amado, o medo de não amar... Aquele que perdeu o medo de ser “nada” não tem mais medo de tudo; paradoxalmente, é o medo de ser nada que nos impede de ser tudo. Se aceitássemos, por um instante, este “nada” que somos, este “nada a mais e nada a menos” do que somos, então, nesse mesmo momento, não haveria mais obstáculos à revelação e ao desdobramento do Ser que ama, em nós e através de nós.

Se, supostamente, ser amado é um direito do homem, ser capaz de doar é uma realização, uma graça divina concedida ao homem; a alegria de participar da Dádiva e da Vida do Ser que faz “girar a Terra, o coração humano e as demais estrelas”, generosamente...

Porém, não fosse pelo fato de nos “sentirmos mal”, como seria possível aceitarmos “ser nada” quando nos sentimos ser alguma coisa? O termo “nada” pode parecer negativo; talvez fosse preciso dizer simplesmente “ser”, sem acrescentar qualquer palavra, para podermos pressentir que o que se soma ao “ser” é algo de “mental” e compreendermos melhor a palavra do Cristo, precedida pela de Buda (seis séculos antes): “O que é, é, o que não é, não é”. Tudo o que é dito a mais vem do mental ou do “mau”, ou ainda, em algumas traduções, do “mentiroso”.

Sentir-se em paz é estar num corpo relaxado, com o coração livre e a mente serena. E conhecendo melhor, hoje, as funções coordenadoras do cérebro, é sem dúvida pelo mental que devemos começar. Ser nada a mais (e nada a menos) do que somos – estar em paz – pressupõe uma mente pacificada, em repouso, e é o segundo sentido da palavra shalom.

Por que não estamos em repouso?

Não somente há o medo de ser “nada” (ser mais ou ser menos do que somos), mas existem as lembranças, com as quais nos identificamos e que tomamos por nosso verdadeiro ser. O caminho para a paz é aquele que nos faz passar das nossas identidades provisórias, irrisórias, transitórias, para a nossa identidade essencial (eu sou o que eu sou).

Os Padres do Deserto falavam de oito logismoï, ou pacotes de memórias, com os quais nos identificamos e que nos impedem de estar em paz.

São eles:

1. Gastrimargia, ou a identificação com nossas fomes, sedes e apetites, o resultado de todas as nossas necessidades, que e somatizam, na maior parte do tempo, oralmente (bulimia, anorexia);

2. Philarguria, ou o medo de nos faltar algo, que se manifesta pela acumulação de bens inúteis; identificamo-nos e buscamos a segurança, pelo que temos e pelo que possuímos;

3. Pornéia, ou a identificação com a nossa vida pulsional, com o medo de nos faltar vitalidade e desejo;

4. Orgé, ou a dominação do irascível e do emocional, a cólera de não ser reconhecido como “centro do mundo”, “digno de reconhecimento e respeito”;

5. Lupé, ou a tristeza de não sermos amados como gostaríamos de ser;

6. Acedia, ou a tristeza de não sermos amados de forma alguma, o desespero diante da evidência de que nunca fomos e nunca seremos amados (a menos que cessemos de pedir e nos tornemos capazes de doar);

7. Kenodoxia, ou a vaidade e a presunção que nos identificam com a imagem que fazemos de nós mesmos, independentemente do que somos na verdade; isto só acontece com angústia, e esta é proporcional à diferença que existe entre o que somos e o que pretendemos ser;

8. Uperephania, sem dúvida, a patologia mais grave: trata-se de colocar nossa identidade ilusória como se fosse a única realidade, e tomarmos a nós mesmos por única referência e juizes do que é bom ou mau; considerar todas as coisas em relação ao prazer ou desprazer que elas nos proporcionam e fazer delas uma lei válida para todos.

Aos oito logismoï, ou pensamentos, poderíamos acrescentar muitos outros, como o ciúme, a inveja... e todas as projeções que nos impedem de ver e de aproveitar o que está no presente. Não por acaso, mais tarde, os Padres do Deserto chamaram estes pensamentos ou expressões da mente, que constituem obstáculos à apreensão simples e pacífica do que existe e do que somos, de “demônios” (shatan, que, em hebraico, quer dizer: “obstáculo”).

Em resumo, o principal obstáculo à paz, o maior dos demônios é a nossa própria mente, este reservatório de emoções passadas, que se derrama sem parar sobre o presente; este “pacote de memórias” que denominamos ego, ou eu. Quem sofre ou é infeliz é sempre o eu e nossa identificação com o que não somos realmente.

Que só o presente existe é um segredo bem guardado; o que era, não é mais; o que será, ainda não é; se vivermos eternamente em nossos arrependimentos e projetos, teremos que sofrer e passaremos ao largo do “segredo”... “Ora ao teu Pai que está aí, dentro do segredo”, na presença do que é presente. São palavras do Evangelho e também palavras de cura...

A morte não existe ainda, ela não é. Só permanece este “Eu Sou”, que existe desde sempre e para sempre. Não podemos ir para outro lugar, senão onde estamos; e onde nos encontramos aqui já estamos. Por que procurar, em outra parte, a vida e a paz que nós somos, se a paz é nossa verdadeira natureza, não está por fazer? Trata-se, primeiramente, de conferir menos importância àquilo que nos “impede” de estar em paz; depois, não lhe dar importância alguma, se quisermos; e isto significa aderir, instante após instante, ao que é, com um espírito silencioso, uma mente serena, ou melhor, não identificados com as memórias e com as emoções que essas memórias provocam.

Lembrar-se de que nossa verdadeira natureza está em paz é uma forma universal de oração. Essa rememoração de nosso ser verdadeiro encontra-se, efetivamente, na base das práticas de meditação de várias culturas ou religiões (dhikr – prática islâmica; japa – modalidade de ioga; hesicasmo – seita antiga de místicos cristãos orientais, etc.).

Temos medo de que? De perdermos a cabeça, perdermos a alma, de não sermos o que nossas memórias nos dizem que somos, não sermos coisa alguma do que pensamos ser? Perdem-se as ilusões, os pensamentos, e fica somente o medo de morrer. Se eu paro de me identificar com o que deve morrer, permaneço já naquilo que sou desde sempre.

Não pode haver outro artesão da paz que não seja aquele cujo corpo está relaxado, que tem o coração livre e a mente pacificada. Mesmo o nosso desejo de paz pode tornar-se uma tensão, um nervosismo, um obstáculo à paz, uma obrigação, um dever que se somará à infelicidade e à inquietação do mundo.

Afirmar que estamos em paz não é negar nossos medos, nossas memórias, nossos sofrimentos... é colocá-los em seus devidos lugares, na corrente insensata e tranquila da verdadeira Vida...

fonte aqui












Tenham um dia repleto de Paz e de Luz!
Que seu fim de semana seja cheio do Amor de Deus!
Rosane!

3 comentários:

  1. Só passei aqui para desejar shalom para vc e sua familía.
    Bjs

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  2. RÔ querida, passei por aqui doida para saber de ti, li teu post e fiquei aqui pensando se um dia ou ... em outras oportunidades de vida vou saber amar assim, sem medo. Uma certeza eu tenho, desde sempre (nem me lembro desde quando) A gente só dá o que tem! então, apesar de ser assim mais amorosa, compreensiva e avessa a qualquer tipo de violencia sinto medo, muito medo. Um medo emorme que NADA alivia. Medo de tudo! É como se tivesse certeza de que "algo tá me esperando". Não quero te deixar preocupada, de geito nenhum, só quero que saiba que mais uma vez, ao ler teu post me deparei com meu medo. Aí eu me pergunto medo de que? Não sei! Mas convivo até bem com ele, zafinal já completei quarenta e sete anos rio bastante, sou feliz (apesar do medo), sei enfrentar as adversidades e meu nível de neurose é "aceitável". Bem me estendendo mais um pouco também li o post seguinte: a história do anjinho, e não é que mais uma vez me deparei com o "meu" medo?
    Bom querida, FOI MUITO BOM PASSAR POR AQUI! Se não me deparo com ele e fico consciente de que ele existe como posso vencê-lo.
    Obrigada por tudo ew fique com Deus
    bj

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  3. RÔ, Como estás?? Espero que tudo esteja bem e em paz. Que o Senhor a abençoe e lhe cure totalmente.CONFIE!!!! Deus é FIEL!!!! Obrigada por seu carinho e amizade.Beijos

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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