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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Dá-me Senhor Poesia...



-me, Senhor, poesia...


Cedinho, indo para o trabalho, paro num sinal e descubro que a mesma chuva que nos últimos dias fez tantos estragos, hoje colocou um arco íris bem no meu caminho.

A máquina fotográfica permite o registro da imagem já gravada em minha emoção.

Durante os segundos do sinal fechado contemplo, admirado, aquela cena marcada pela banalidade das pessoas que passam na faixa, à minha frente, sem se darem conta daquele espetáculo.

Minto; uma mulher pára, olha e sorri. Depois, segue em frente.

Eu também. No verde, instintivamente, faço o sinal da cruz, como algumas pessoas fazem quando passam diante de uma igreja.

Não vejo uma igreja por perto, mas há Deus por toda parte. Na verdade, há a poesia de Deus por toda parte. O que nos cabe é aguçar os sentidos e captá-la, senti-la pulsando em nós e à nossa volta.

Qualquer ser humano, por mais simples que seja, e às vezes, até por ser o mais simples, tem a capacidade de fazer essa leitura poética do cotidiano. A diferença está naqueles que, além da percepção, são capazes da expressão. Uma coisa é sentir, outra é dizer o que se sente, e outra ainda mais rara, é fazer o dizer acontecer no espaço da beleza, da sensibilidade, no espaço da poesia. E não me refiro apenas à poesia convencional, feita de versos métrica e rima. A poesia é uma linguagem multifacetada que se expressa, sem pudor ou censura, de muitas formas. E como precisamos dela!

Há tanta poesia num verso de Pessoa quanto num quadro de Dali ou no olhar e no sorriso daquela mulher anônima. Há tanta beleza poética num traço ousado de Picasso quanto numa frase de Quintana.

A poesia transborda de uma cena de Kurosawa, de uma canção de Toquinho e Vinícius ou de uma escultura de Rodin.

Louvo a Deus que haja esses poetas de plantão para nos dizer da poesia presente, insistente, resistente, num mundo tão pragmático, apressado, endurecido e insensível. Louvo a Deus, poeta maior e primeiro, do qual, o mais talentoso artista, é apenas um plagiador bem intencionado.

Como ignorar ou copiar a beleza poética daquele arco íris, entre a parede de concreto do conjunto JK, ou do fascínio delicado, colorido e aveludado das pétalas das flores que amanheciam comigo, ali na Praça Raul Soares.

É, há beleza demais no mundo para que não sejamos, todos, aprendizes de poesia...

Há beleza no mistério das pessoas. Havia beleza naquela mulher que passou por mim, apesar da roupa desencontrada num corpo que me pareceu grosseiro, os cabelos mal cuidados. No entanto, atravessou a rua, à minha frente, viu o arco-íris, sorriu cúmplice, e ficou bela.

Eu segui em frente. Ela também. Em mim ficou sua imagem fugaz. E o mistério permanente.

O que pensou aquela mulher? O que sentiu que a fez sorrir? Estaria apaixonada? Levava no coração apertado a preocupação com um filho e o arco íris lhe foi um alívio? Sonhava com a casa própria? Com um amor impossível? O que lhe disse o arco-íris? O que disseram nossos olhos anônimos naquela fração de segundo em que se cruzaram?

Não sei. E o mais provável é que nunca saberei e, no entanto, havia naquela mulher mistério suficiente para encher o universo. E somos mais de seis bilhões... E quantos fomos e seremos ao longo do tempo, únicos, originais, irrepetíveis...?

Preciso urgentemente de um poeta que me socorra, de uma Adélia Prado, uma Martha Medeiros que me emprestem seu olhar sensível e me cedam as palavras certas para dizer da minha angústia, da minha esperança, do meu amor pelas pessoas, anônimas ou conhecidas, das mulheres e homens feios ou belos, das crianças de rua ou da lua, que cruzam o meu caminho.

Fui menino vadio, adolescente difícil, jovem rebelde. Hoje sou um adulto inundado de sentimentos, em busca de alguma poesia que me salve, que resgate em mim a beleza perdida, o olhar capaz de enxergar, no cotidiano mais banal, na cena mais normal, a presença da ternura poética irresistível. Pois os poetas são os profetas do nosso tempo, de todos os tempos. Duvida? Pois lhe conto duas histórias a modo de explicação.

Um homem saiu de casa e foi ao depósito de material de construção comprar tinta para pintar sua casa. Um resto de estoque estava em oferta. Arrematou o lote. A mulher, quando viu, brigou. “Onde você está com a cabeça, pintar a casa dessa cor...?

”Anos depois, a filha desse homem fez a leitura poética desse fato. E escreveu:“Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de um alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo...”

A menina da casa amanhecendo hoje é uma senhora que atende pelo nome de Adélia Prado.

Quer mais banalidade poética?

Aquele cara encostado no muro pode estar tramando um assalto, mas também pode estar esperando a moça que trabalha no prédio em frente para pedi-la em casamento...

Quem enxergou o rapaz para além da paranóia e do medo urbanos? Martha Medeiros.

A elas peço a benção. Em troca, ofereço o arco-íris da minha oração da manhã.



Eduardo Machado
24/12/2008
Recebi por e-mail do grupo EE Inaciana


Bom dia a todos(as)!

Rosane!

3 comentários:

  1. Voinha, que texto lindo!!
    Eu amo arco-íris e aceito o seu nessa manhã e sempre!!
    Todos temos uma alma poética, basta apenas exercitar poesia todos os dias. Amando, ajudando, compartilhando e vivendo!!!

    Beijos, vó mais linda!!!

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  2. "Poetas de plantão?"
    "PRESENTE!!!"

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  3. um Oi repleto de Carinho...
    ~~um Oi recheado com muita Fé...
    ~~um Oi imenso com Afeto...
    ~~um Oi esplendoroso de Luz...
    ~~um Oi forte com Energia...
    ~~um Oi encharcado de Coragem...
    ~~um Oi embrulhado de Esperança...
    ~~um Oi cheio de Alegria.!!!
    Bom Fim de Semana
    Manuela

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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