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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Estar envelhecendo é bom...


Estar envelhecendo para mim está sendo melhor do que eu imaginava, nunca me vi velha, e ela chegou de mansinho e está entrando em minha vida, não tenho medo da velhice, quero encará-la com desejo de viver e amor. Com ela novas etapas de nossas vidas começam. O bom é aceitar e viver bem. Leonardo Boff completou 72 anos no mês de dezembro passado e aos 70 escreveu-nos sobre a velhice:


Oficialmente velho
por Leonardo Boff
publicado em 14/12/2008.

Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas.

Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos.

A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ”na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenece o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face.

Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável.

Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.

Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Ai saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.

Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: ”contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade”.

Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:”eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver”. Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus. Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.

Fernando Pessoa 120 anos depois ...

- Quando vejo os nossos velhos felizes porque há quem se lembre deles dando-lhes "as sardinhas" que lhes apetecer...
- Quando vejo os nossos velhos que tudo fizeram para que os seus filhos tirassem um curso...
- Quando vejo os nossos velhos com reformas miseráveis em lares da Segurança Social (só com cunhas), Santa Casa da Misericórdia (esgotado), Lares privados (uma mina de ouro), a pagarem o que pagam, e pedindo auxilio ao estado-pessoa de bem, entra em linha de conta os rendimentos dos filhos, como se estes não tivessem encargos e porque infelizmente não podem ficar com eles, é quase sempre negado e por vezes bastam 50€ para passarem as tabelas existentes e exigentes...
- Quando vejo os nossos velhos com o olhar opaco e tão triste deambulando no sentimento de "dependência monetária dos filhos" o que nunca pensaram ser necessário... pergunto se tudo isto acontece aos pais e familiares dos políticos e não só, que se enchem à custa de tudo e de todos?
Nesta espiral de desigualdades - entre os que realmente trabalharam e os que fingem que trabalham - há um factor que se lhes escapa, um dia serão eles os velhos esquecendo-se por completo que hoje podem ser muito ricos mas já vi muitos ricos morrerem na maior das misérias... e nunca se sabe se não dirão o mesmo poema:

Quem me Dera
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas ...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.
Alberto Caeiro
fonte e imagem aqui.

Bom-dia para você!
Rosane

3 comentários:

  1. Eu não não estou muito preocupada com o fato de envelhecer,mas não quero e ficar de cabelos brancos e rosto enrugadinho.....eu vou envelhecer de cabelo pintadinho e rosto esticado igualzinho uma tela.....e pronto.rsrsrsrs
    Beijos minha queridissima.
    Deusimar(Deusa)
    http;//vasinhoscoloridos.blogspot.com

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  2. Que lindo texto de Boff. Saber envelhecer, aceitar nossas mudanças...beijos.,tudo de bom,chica

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  3. Oi, Rô,
    Os cínicos dizem que envelhecer é bom, se a gente pensa na altenativa, que seria morrer antes de ficar velho. Mas todos sabemos que não é bem assim. Quando olhamos para trás e vemos que antes éramos mais tolos ou que nos reconhecemos hoje diferentes do que fomos (melhores, com certeza) é que compreendemos a beleza do envelhecimento. Os anos trazem a sabedoria e só não a agarra os que são néscios.

    Beijinho e boa semana.

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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