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terça-feira, 18 de agosto de 2009

"VOCÊ JÁ SENTIU O ZERO ?"




Você já se sentiu o Zero ?

O Zero sentia-se vazio. Olhava para si mesmo e não gostava do que via: era aquela enorme barriga; era a incapacidade de sobressair; era a falta de um caráter vincado...

Achava mesmo que não valia nada. Já muitas vezes tentara ser esguio como o 1, elegante como o 4 ou belo como o 7, mas nem sequer conseguia a pequena proeza de esticar uma haste para se assemelhar ao 6 ou ao 9.

Era realmente uma nulidade. Mas o pior de tudo nem sequer era o aspecto, pois já se tinha habituado a isso e os outros também nunca o tinham visto de outra forma. Não, o pior nem era olhar-se ao espelho: o pior era quando olhava para dentro de si mesmo. Não valia nada, pronto! Era isso. Nunca tinha feito nada de que se pudesse realmente orgulhar; tinha as mãos vazias; nunca deixaria o nome na história ou marcas no mundo.

Não passava de um zero.

Mas, então, por que razão tinha consigo todos aqueles sonhos, aquele desejo de grandeza, a vontade de se lançar a tarefas gigantescas? Era um zero e sentia dentro de si uma enorme tendência para o infinito...

Ora, isto - pensava ele - não tinha lógica nenhuma. Era até contraditório. E filosofava: Via-se logo que os números tinham sido uma invenção dos homens. Por isso não batiam certo. Se tivessem sido obra de Deus, tudo teria sido diferente. Sendo assim, paciência...

Mas o Zero estava de longe de se resignar com a situação. Alguma coisa lá por dentro se recusava a aceitar pacificamente estas filosofias, ainda que elas servissem perfeitamente como justificação para a sua nulidade e para a vida preguiçosa que levava.

E, no fim de contas, talvez os algarismos não fossem uma invenção dos homens.

Muitas vezes dizia para si mesmo que não podia fugir à sua natureza, à incapacidade com que nascera. Sentindo-se incapaz do esforço de alcançar o infinito, que chamava por ele, repetia cinqüenta vezes por dia que o infinito não existia. Para se convencer a si próprio. Para se poder entregar tranquilamente à doçura de uma vida sem montanhas para subir.

No entanto, aquela doçura acabava por o maçar. Tornava-se amarga: não na boca, mas num lugar qualquer que ele não sabia identificar com exatidão. Ora, aquilo doía-lhe. Era como se tomasse veneno.

O Zero sabia a solução, a resposta, a verdade, mas fugia de pensar nisso. Também lhe doía... O Zero sabia que o verdadeiro problema não era a preguiça nem a falta de capacidade. A questão importante era o orgulho.

Sucedia que o orgulho o levava a procurar sempre o primeiro lugar quando se juntava aos outros algarismos para fazerem alguma coisa em conjunto. Conseguia esse lugar porque era o mais forte de todos, mas os outros algarismos não achavam aquilo bem. E quando isso sucedia formava-se uma barreira, uma vírgula, entre ele e os outros. E, assim, com o Zero no primeiro lugar e a vírgula logo a seguir, aquilo que faziam não valia quase nada.

O Zero pressentia que, se aceitasse um dos últimos lugares, tudo seria diferente. Talvez então pudessem, em conjunto, aproximar-se do infinito e até tocar-lhe. Talvez assim se abrissem as portas a todos os sonhos que desde sempre trouxera consigo. Mas teria - assim pensava - de se curvar perante os outros, e baixar a cabeça era para ele uma impossibilidade...

Não vou acabar de contar a história do Zero. Não vou dizer como chegou a entender que para um zero o melhor lugar é o último. Nem como acabou por pedir desculpa aos outros. Nem como conseguiu depois - não sempre, mas muitas vezes - a glória de baixar a cabeça e se colocar no último posto.

É que estas transformações são sempre muito íntimas e dolorosas. Sou amigo do Zero - conheço-o muito bem - e não está certo que revele em público a sua intimidade.

**Paulo Geraldo


Presente::..

.: Blog: A Casa do Zé Carlos
http://zecarlosmanzano.blogspot.com/ .: Blog: Almas Douradas
http://almasdouradas.blogspot.com/
imagem aqui


"Sê humilde para evitar o orgulho, mas voa alto para alcançar a sabedoria."
"Santo Agostinho/"


Bom e maravilhoso dia para você.

Que a luz de Deus esteja sempre e sempre sobre ti!
Rosane!




4 comentários:

  1. E eu adoro o zero, digos vários zeros depois do primeiro numero do meu salário.Queria muito mais. rsrsrsr

    Beijão Rô,
    Boa tarde!

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  2. Rô, que texto interessante, eu ainda não conhecia!!! Adorei!
    Tentei te ligar hoje mas só dava ocupado, tentei com o Juca também e não consegui, tô achando que me bloquearam lá =/

    Fica bem tá?

    Te amo!

    ResponderExcluir
  3. É.. a gente às vezes se sente zero. E às vezes somos o Zero do post.
    E gostei da frase de Santo Agostinho.
    Bj!

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  4. É, todo mundo já se sentiu um pouco zero, e vive meio zero, rs...
    Vó, beijos

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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