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sábado, 19 de janeiro de 2008

Registrar a própria história!



Quando fiz EE"Exercícios Espirituais de Santo Inácio", ganhei este texto que faz parte dos ensinamentos. Os Padres Jesuítas que ministrão os exercícios nos sugerem que façamos um diário de nossas vidas, para que possamos legar aos nossos filhos, netos, bisnetos...a nossa autobiografia. É muito importante deixarmos registrado nossa história, afinal somos seres únicos e cada qual tem sua história de vida que não pode ser esquecida. Esse texto praticamente nos ensina como iniciar nosso diário, mas cada um tem lá seu modo ser e pensar.


Quando comecei a fazer o meu diário, foi como se eu mergulhasse dentro de mim e vivesse cada segundinho de minha vida de novo.


Façam essa experiência, verão é gratificante voltar ao passado e se libertar de modo que caminhemos para o futuro sem precisar ficar arrastando o peso do que já se foi, mas sendo capaz de usar tudo isso para ter mais força, diz o texto, e eu, agora que o faço posso aprovar.





Registrar a própria história

Com a sabedoria, que costuma ser uma conquista da maturidade, a pessoa tem força e tranqüilidade para empreender um mergulho dentro de si.

Em fins de 2003, publiquei um livro (“Andanças pela Europa: 1927”) que é o diário que meu pai fez, quando jovem solteiro, durante um ano na Europa. Para organizar o prefácio, todos os membros da família e até os editores (não importando que não o tivessem conhecido, pois ele faleceu em 68) se mobilizaram intensamente. Foi preciso rever álbuns de fotos desarquivar cartas, poemas, músicas e documentos já amarelados. Trouxemos à tona reminiscências quase apagadas. Assim, adquirimos uma compreensão mais completa de sua trajetória de vida. Para o lançamento do livro, parentes e amigos se deslocaram de pontos diversos, trazendo filhos, cônjuges e até netos para aproveitarem a oportunidade de se abraçar e ao mesmo tempo de se conhecer. Foi um momento de intensa e deliciosa mobilização de sentimentos e uma oportunidade de recuperar significados.
Ora, isso tudo ocorreu em torno de alguém já falecido há cerca de 30 anos. Refletindo a respeito da elaboração da própria biografia, posso dizer que, com razão muito mais forte do que a situação que vivenciei, tal experiência é muito positiva para a saúde emocional e para o crescimento interior.
Há psicólogos desenvolvendo com seus pacientes maduros esse trabalho de compor sua própria autobiografia. O produto transforma-se num emocionante presente para os filhos, netos e bisnetos. Mas o valor da autobiografia é essencialmente subjetivo, pode ser apenas o rico instrumento para o crescimento pessoal ou ainda um legado para as gerações mais novas.
Como se sabe, o uso das palavras permite um grau máximo de simbolização e de abstração.
Quando só pensamos sobre um assunto, somos menos claros e menos definidos do que quando falamos sobre ele, mas , quando escrevemos, somos obrigados a ter as idéias definidas, concatenadas, sem dispersão. Daí a importância de uma forma final dessa autobiografia se escrita. Além disso, o contar e ouvir histórias estão entre as atividades mais fascinantes e prazerosas da mente humana. O autor se encanta ao rever sua autobiografia pronta, com o começo, meio e fim, do mesmo jeito que uma criança se extasia com uma história da carochinha ou um adulto com um bom romance.
Com a sabedoria, que costuma ser uma conquista da maturidade, a pessoa tem força e tranqüilidade para empreender um mergulho dentro de si. Vai reordenar fatos, buscar informações para completarem vácuos ou corrigir distorções, comparar opiniões, conferir sentimentos, tudo isso dentro de uma perspectiva de todo um ciclo de vida, desde o nascimento até o presente. Ampliando os horizontes da análise, vai procurar o entendimento das coordenadas históricas e sociais presentes ao longo desse ciclo e de como ter influído em sua trajetória pessoal.
O simples ato de buscar informações (depoimentos, documentos, fotos, cartas, objetos) obriga a uma mobilização de sentimentos, a um despertar de memórias e uma reativação de relacionamentos sociais que são, por si sós, muito importantes para refletir sobre a própria vida e recompô-la.
O objetivo não é fazer uma obra literária, mas estando numa faze propícia da existência, fazer um balanço do que a vida lhe ofereceu e de como lidou com pessoas e fatos até o momento.. Há uma reorganização na percepção da própria vida. Eventos quase esquecidos são devidamente valorizados, enquanto a importância de outros é minimizada; perdas marcantes podem ser mais bem-aceitas ;
há possibilidade até de perdoar as pessoas que causaram mágoas. Os fatos do passado não podem ser mudados, mas a interpretação que damos a eles sim.
Pode-se ainda pensar em deixar um legado para os descendentes, de modo que possam compreender melhor suas raízes e conhecer episódios marcantes da família do ponto de vista autobiográfico.
Essa é uma tarefa para corajosos, persistentes, vitais, amantes da verdade. Daí o interesse em ter um profissional que atue como facilitador do trabalho: um psicólogo ajuda a vencer os medos, faz as perguntas certas, percebe se há fugas, vácuos ou incoerências e, sendo um conhecedor da psicologia da maturidade, auxilia o autor a ressignificar os episódios vividos.
Quem escreve a autobiografia com um fim psicoterapêutico , passa a se perceber e a seu mundo de modo mais completo, mais redondo, mais apaziguado. Essa volta ao passado liberta a pessoa para que caminhe para o futuro sem precisar ficar arrastando o peso do que já foi, mas sendo capaz de usar tudo isso para ter mais forças. Em uma palavra, amplia a compreensão do que ela significa como pessoa, do que significa sua trajetória de vida dentro do mundo e ajuda a responder às eternas questões humanas:






- Quem sou? Para que vim ao mundo? Para que Norte rumar de agora em diante?

Maria Cecília de Abreu é psicóloga, mestra e doutora pela PUCC-SP (autora do livro "Depressão e Maturidade")

4 comentários:

  1. Rô!!!

    Eu não digo que este blog está cada dia melhor?!? Lindo post, adorei!

    Passei principalmente para desejar um ótimo final de semana...

    Beijos!!!

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  2. Quando fiz meu diario pela primeira vez, a policia me pegou na fronteira da fronteira da guianna francesa com o Brasil, e um interprete leu tudo sobre as minhas "transas de verao" com alguns estrageiros" que pensei estar apaixonada!
    seu post me trouxe algumas lembranças...

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  3. ... "há possibilidade até de perdoar as pessoas que causaram mágoas. Os fatos do passado não podem ser mudados, mas a interpretação que damos a eles sim"...

    Isso é uma grande verdade, Rô! Eu senti na pele quando escrevi sobre um fato da minha vida, depois relendo, senti tudo tão diferente! Foi muito importante.

    Que você tenha um ótimo final de semana junto à sua família, minha querida!!!

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  4. Muito interessante isso, Rô! Valiosa dica para todos nós! Sempre podemos repassar às gerações futuras coisas que vivenciamos, assim como podemos aprender algo com as novas gerações! Parabéns pelo post!

    Beijão!
    Juca

    PS: Tenha um belo domingo!

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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