Cirurgia bariátrica – aspectos psicológicos e psiquiátricos
Verenice Martins de Oliveira1 Rosa Cardelino Linardi1 Alexandre Pinto de Azevedo2
1Psicóloga clínica do Grupo de Estudo, Assistência e Pesquisa em Comer Compulsivo e Obesidade – GRECCO/Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Ipq – AMBULIM – Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HC-FMUSP2Médico psiquiatra. Coordenador do GRECCO-AMBULIM/IPq/HC/FMUSP
Endereço para correspondência:
AMBULIM – Rua Dr. Ovideo Pires de Campos, 785 – 2º andar – 05403-010 – São Paulo – SP – e-mail: ambulim@hcnet.usp.br – Fone: (11) 3069-6975.
A cirurgia bariátrica é o método mais eficaz no tratamento da obesidade mórbida e controle do peso em longo prazo. As cirurgias antiobesidade podem ser procedimentos que limitam a capacidade gástrica, ou que interferem na digestão ou, ainda, uma combinação de ambas as técnicas. A maneira mais objetiva para classificar a obesidade é o Índice de Massa Corpórea (IMC). Pessoas com IMC acima de 40 são portadoras de obesidade mórbida. As principais indicações para a cirurgia bariátrica são: obesos com IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m², associado com doenças clínicas descompensadas pela própria obesidade. O papel do psicólogo é o de avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia e auxiliá-lo quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e pós-cirúrgico. Quanto a possíveis contraindicações psiquiátricas para a cirurgia antiobesidade, não há consenso naliteratura.Palavras-chave: Cirurgia bariátrica, obesidade mórbida, aspectos psiquiátricos da obesidade.
Abstract
A obesidade é vista atualmente como um dos problemas de saúde pública mais preocupantes, devido ao seu crescente aumento e as graves conseqüências que pode acarretar. Trata-se de um fenômeno multifatorial que envolve componentes genéticos, comportamentais, psicológicos, sociais, metabólicos e endócrinos (Björntorp, 2003).A maneira mais objetiva para classificar a obesidade é o Índice de Massa Corpórea (IMC). A faixa de peso de IMC considerada normal varia de 19 a 24,9 Kg/m2. Pessoas com IMC de 25 a 30 são consideradas acima do peso (sobrepeso), enquanto aquelas entre 30 e 40 já são classificadas como obesas. Finalmente, pessoas com IMC acima de 40 são portadoras de obesidade mórbida. Os pacientes com obesidade mórbida devem ser encarados como portadores de uma doença que ameaça a vida, reduz a qualidade de vida e a auto-estima e que requerem abordagens eficientes para promover uma redução do peso. Esses pacientes são candidatos à cirurgia bariátrica (Björntorp, 2003).
A cirurugia bariátrica
As cirurgias antiobesidade podem ser didaticamente divididas em procedimentos que: 1) limitam a capacidade gástrica (as chamadas cirurgias restritivas); 2) interferem na digestão (os procedimentos mal-absortivos); e 3) uma combinação de ambos as técnicas. São consideradas uma opção efetiva para o controle da obesidade mórbida em longo prazo (Pories, 2003).Indicações para a cirurgia bariátrica devem preencher alguns critérios, como IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m², associado com doenças com, no mínimo, cinco anos de evolução e que melhorem com a perda de peso, como diabetes melito e hipertensão arterial, doenças osteoarticulares (principalmente de membros inferiores), apnéia do sono, histórico de falha de tratamentos conservadores prévios e ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade (Pories,2003).Quanto à possibilidade de contra-indicações psiquiátricas para a cirurgia bariátrica, não há consenso na literatura. Embora a presença de transtornos depressivos, afetivo bipolar ou psicótico costumem ser considerados como contra-indicações para a realização da cirurgia, não há dados ou fatores preditivos de bom ou mal prognóstico adequadamente estudados e/ou comprovados (Segal, 2002). De forma geral, utiliza-se o bom senso de liberar o paciente com transtorno psiquiátrico já estabilizado ou pelo menos tendo iniciado o tratamento específico, considerando o risco da própria obesidade mórbida como principal indicador do ato cirúrgico. Cuidado especial deve ser dado a pacientes portadores de dependência de etílicos pela sua associação com má evolução pós-operatória e risco de morte (Hsu, 1998).No pré-operatório, o paciente precisa ser informado das mudanças significativas pelas quais ele atravessará. Um acompanhamento psicológico fornece condições para que o paciente perceba a amplitude do processo que passará e o ajuda a tomar decisões mais conscientes e de acordo com seu caso particular. A cirurgia bariátrica deve ser contra-indicada em qualquer caso em que o paciente não esteja plenamente de acordo com a cirurgia ou não seja capaz de apreciar as mudanças que ocorrerão após a operação, quer por transtornos psiquiátricos de eixo I ou por incapacidade cognitiva (Segal, 2002)
Aspectos psicológicos e psiquiátricos
Segundo o Consenso Latino-americano de Obesidade (Coutinho,1999), a pessoa portadora de obesidade apresenta um sofrimento psicológico resultante do preconceito social com a obesidade e também com as características do seu comportamento alimentar.Pessoas obesas apresentam maiores níveis de sintomas depressivos, ansiosos, alimentares e de transtornos de personalidade. Porém, a presença de psicopatologia não é necessária para o aparecimento da obesidade. A presença de psicopatologia é restrita a grupos específicos, tal como acontece em outras doenças crônicas. Assim, a obesidade poderia ser vista como causadora da psicopatologia e não como conseqüência desta última (Khaodhiar, 2001).A cirurgia antiobesidade é um procedimento complexo e, assim como qualquer cirurgia de grande porte, apresenta risco de complicações. Portanto, o paciente precisa conhecer muito bem qual é o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios que advirão da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento psicológico é aconselhável em todas as fases do processo.O período imediatamente após a cirurgia é relatado pelos cirurgiados como sendo um dos mais difíceis. É a fase de recuperação do ato cirúrgico, de maior desconforto e de adaptação à nova dieta. Junta-se a tudo isso a expectativa, a ansiedade e a insegurança do novo período. No pós-operatório, as mudanças rápidas que acontecem, tanto relacionadas aos hábitos alimentares, quanto às mudanças do próprio corpo, acabam exigindo do paciente uma reflexão, e emergem questões emocionais. É neste momento que o trabalho psicológico é de extrema importância, podendo auxiliar o paciente a se conhecer e a se compreender melhor, a aderir de forma mais eficiente ao tratamento, envolvendo-o e tornando-o responsável pela vivência de criação de uma nova identidade e estimulando a sua participação efetiva no processo de emagrecimento (Franques, 2003).Tratando-se de pacientes obesos mórbidos, podemos dizer que a imensa maioria dos que chegam à cirurgia bariátrica traz alterações emocionais. Essas dificuldades de natureza psicológica podem estar presentes entre os fatores determinantes da obesidade ou entre as conseqüências. Os estudos indicam que a fase de desenvolvimento na qual tem início a obesidade faz diferença na evolução pós-operatória, isto é, aqueles que eram magros e depois tornaram-se obesos tendem a recuperar uma imagem de seu corpo como magro mais facilmente, enquanto que aqueles que eram gordos desde a infância têm dificuldade de adaptar-se a uma nova imagem (Nunes 1998).O tratamento desta patologia requer uma equipe multidisciplinar, e o papel do psicólogo dentro da equipe é o de avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia, auxiliá-lo quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do précirúrgico (avaliá-lo quanto aos seus conhecimentos sobre a cirurgia, riscos e complicações, benefícios esperados, exames e seguimentos requeridos em longo prazo, conseqüências emocionais, sociais e físicas e responsabilidades esperadas), inclusive, detectar e tratar os pacientes portadores ou potencialmente sujeitos a distúrbios psicológicos graves (Franques, 2003).
Referências bibliográficas
BJÖRNTORP, P.- Definition and classification of obesity. In: Fairbuirn & Brownell (eds) Eating disorders and obesity. 2.ed, New York, p. 377-81, 2003.COUTINHO, W.- Consenso Latino-Americano de Obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab 43: 21-67, 1999.FRANQUES.- Sobre o Comportamento e cognição. In: Arruda RTC (ed) Obesidade mórbida e intervenção, ESETEC Editores Associados, pp. 335, 2003.HSU, L.K.; BENOTTI, P.N. et al.- Nonsurgical factors that influence the outcome of bariatric surgery: a review. Psychosom Med, 60 (3): 338-46, 1998.KHAODHIAR, L.; BLACKBURN, G.L.- Health benefits and risks of weight loss. In: Björntorp, P. (ed) International textbook of obesity, John Wiley & Sons, Chichester pp. 413-40, 2001.NUNES; APOLINARIO; ABUCHAIM; COUTINHO e cols.- Transtornos alimentares e obesidade, ArtMed, Porto Alegre, 1998.PORIES, W.J.; JOSEPH, E.B.- Surgery for obesity:procedures and weight loss. In: Fairbuirn & Brownell (eds) Eating disorders and obesity, 2.ed, New York, pp. 562-7, 2003.SEGAL, A.; LIBANORI, H.T.; AZEVEDO, A.- Bariatric surgery in a patient with possible psychiatric contraindications. Obesity Surgery 12(4): 598-601, 2002.
Órgão Oficial do Departamento e Instituto de Psiquiatria Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo
Rô, dê um beijão na sua filha por mim!
ResponderExcluirFiquei muito feliz em saber da história dela, da garra e determinação que ela teve para realizar essa cirurgia, que é muito difícil, principalmente o pós-cirurgico... Tenho certeza que ela conseguiu esse resultado positivo, graças à preciosa ajuda dessa mãe generosa e amável que ela tem!
Parabéns, minha querida do coração!
Parabéns para Hevelyn, por sua determinação em perder peso. E parabéns pra você por todo esse apoio dado à sua filha.
ResponderExcluirUm beijo.
Oi querida Rô!
ResponderExcluirQue bom você ter tocado nesse assunto aqui. As pessoas precisam mesmo de toda informação necessária sobre esse assunto, e ver casos de sucesso como o da Hevelyn dão uma força extra para quem precisa passar por essa cirurgia, que, de fato, possui um pós muito difícil e requer muita persistência por parte não só da pessoa, mas de toda a família que acabe envolvendo-se no caso.
Esse mês uma tia do meu marido fez essa cirurgia, fomos visitá-la no hospital e pudemos ver que realmente não é fácil, mas quando a pessoa está determinada, consegue tudo.
Parabéns à sua filha, dê um beijo nela por mim! Parabéns a vc também, Rô, pela dedicação que vc dispensa à sua família!
Beijos e fiquem com Deus!
Olá Rô!
ResponderExcluirEstou retribuindo sua adorável visita.
Parabéns a sua filha.
Que determinação!
Gosto muito do blog da Luma e da Adriana.
Que bom que temos amigas em comum.
Abs
Ah!
ResponderExcluirGosto também da Lusófona e da Cristiane doida kkkkkkk
Brincadeirinha, se ela ler, talvez não goste.
Oi minha linda!
ResponderExcluirEm primeiro lugar obrigada por estar senpre visitando meu cantinho.
Eu também não imaginava tantas complicaçoes e riscos para uma cirurgia dessas. Tua linda filha esta de parabéns pelo esforço de mudar, posso dizer que ela é alguém que "tira" da vida o que deseja, pois a vida é assim nao nos da nada de graça!
Também postei sobre mudanças no meu blog, vai ver!
E vamos dizer que tua linda tem um charme, além de ser muito bonita!
Beijinhos!
Querida Rô!! A Hevelyn é uma vencedora! Ainda bem que ela tem uma mãe maravilhosa para dar todo o apoio e amor:
ResponderExcluirAdorei ver as fotos, parece outra pessoa... até o sorriso é outro, mais confiante..
Parabéns!
Beijos e fiquem bem