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quarta-feira, 4 de junho de 2008

- No deserto se esconde e se revela uma presença -


"- Ah! disse eu ao principezinho, são bem bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz, eu também, se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte!
-Tenho sede também...procuremos um poço...
Eu fiz um gesto de desânimo: é absurdo procurar um poço ao acaso, na imensidão d deserto. No entanto pusemo-nos a caminho.
Já tinhamos andado horas em silêncio quando a noite caiu e as estrelas começaram a brilhar. Eu as via como em sonho, porque tinha um pouco de febre, por causa da sede. As palavras do principezinho cansavam-me na memória.
-Tu tens sede também ? perguntei-lhe.
Mas não respondeu à minha pergunta. Disse apenas:
-A água pode ser boa para o coração...
Não compreendi sua resposta e calei-me...Eu bem sabia que não adiantva interrogá-lo. Ele estava cansado. Sentou-se.Sentei-me junto dele.E, após um silêncio, dissse ainda:
-As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê...
Eu respondi "é mesmo" e fitei, sem falar, a ondulação da areia enluarada.
- O deserto é belo acrescentou...
E era verdade. Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se escuta nada. E no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...
- O que torna belo o deserto, disse o principezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar...
Fiquei surpreso por compreender de súbito essa misteriosa irradiação da areia. Quando eu era pequeno, habitava uma casa antiga, e diziam as lendas que ali fora enterrado um tesouro. Ninguém, é claro, o conseguira descobrir, nem talvez mesmo o procurou. Mas ele encantava a casa toda. Minha casa escondia um tesouro no fundo do coração...
- Quer se trate da casa, das estrelas ou do deserto, disse eu ao principezinho, o que faz sua beleza é invisível!
E caminhando assim, eu descobri o poço. O dia estava raiando. "
(A.Saint Exupéry, O Pequeno Principe,pp.78-80)


O deserto é o lugar da Aliança, escola de intimidade com Deus.
Jesus, como todos os profetas, antes de entrar em missão é conduzido pelo Espirito ao deserto(Mc 1,12; Lc 4,1). Jesus recorria a esta experiência em meio à sua vida: afastava-se para lugares solitários (Lc 5,16).
No deserto temos a possibilidade de reconhecer a ação de Deus em nós com outra luz e com força.
A esperiência do deserto é a de um "tempo" e "lugar" de decisão, de orientação decisiva da vida.
O mestre do deserto é o Silêncio. O deserto tem valor porque revela o silêncio. E o silêncio tem valor porque nos revela Deus e a a nós mesmos.
Quem anda no deserto sente profundamente o que é o "nada". Foi no deserto que o povo de Israel sentiu profundamente sua pequenez e total dependência de Deus.
O deserto grita o nosso nada, o deserto elimina todas as distrações, o deserto nos coloca entre a areia e o céu, o nada e o tudo, o eu e Deus.

O deserto é o grande auditório para ouvir Deus.
" O deserto é fértil " (D.Helder).
"Senhor, vem ao meu encontro e me acompanhe nesse deserto".

Exercícios do cotidiano (EE - exercícios espirituais de santo Inácio de Loyola-)


3 comentários:

  1. Oiii li O Pequeno Principe a muito tempo atras vendo esse post me deu uma saudade daquele tempo... Bjoka ;)

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  2. Oi Rô, O Pequeno Príncipe é um belo livro, repleto de metáforas muito interessantes. Eu era muito jovem quando li pela primeira vez e confesso que não entendi nada... Muitos anos depois eu reli e só então entendi a riqueza escondida no texto!

    É, deu saudades!

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  3. Rô, dá uma olhada no meu texto de hoje, ele também é pra você!

    Beijos

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"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E sabedoria para distinguir umas das outras".

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